terça-feira, 9 de novembro de 2010

MILHO VERDE, PATRIMÔNIO AMBIENTAL E CULTURAL


Vilarejo perto de Diamantina revela a beleza de seu povo e de sua natureza. (Renato Nunes)


   Estar em Milho Verde é ter contato com um ritmo de vida inexistente hoje nas grandes cidades, movido por hábitos simples, com boa prosa e comida com cheiro e sabor de fogão a lenha. Um ritmo marcado, sobretudo, pela exuberância da natureza ainda bem preservada, mesmo que a duras penas e sérias ameaças.

   Embora Milho Verde seja bastante conhecido pela vocação turística e procurado por pessoas de todas as idades que apreciam o contato com a natureza e paisagens exuberantes exuberantes, basta um pouco de convívio para perceber que o verdadeiro patrimônio de Milho Verde é o seu povo. Um povo com as portas e corações sempre abertos para compartilhar com visitantes a experiência e a cultura adquiridas através de um modo de vida muito peculiar, que cultiva a integração do homem com a natureza como o principal remédio para as mazelas da vida moderna.


   Tão revigorante quanto fazer uma caminhada e tomar um banho em uma de suas inúmeras cachoeiras é degustar um pouco do vinho de jabuticaba produzido no local e embriagar-se com a impagável generosidade, sabedoria e as memórias de pessoas como dona Santinha (in memorian) e dona Maria das Mercês (dona Coração) e os senhores Ximbica, José Faria e Totó e tantos outros moradores mais antigos que são os esteios da comunidade. 

  Muitos ainda preservam o conhecimento do uso das ervas medicinais que são abundantes no local, sendo que muitas espécies só ocorrem naquela região.




RUMO A PRESERVAÇÃO 


   Encerradas as atividades do garimpo, o turismo é hoje  a principal fonte de renda dos moradores, mesmo que parte deles ainda cultive suas roças e possua suas criações. As pessoas que se estabeleceram em Milho Verde em busca de qualidade de vida são quem melhor avaliam esse fenômeno. Lana Alves considera o turista que visita a localidade de bom nível. Segundo ela, os turistas que buscam Milho Verde são pessoas que querem desfrutar a tranquilidade e a natureza do lugar. Mas há o risco de saturação e por isso também existe uma preocupação com o impacto do turismo na vida local.

   
   Um fato que justifica de forma clara esta preocupação é o lixo que ali é gerado. Embora o problema do lixo seja um desafio mundial, em Milho Verde uma latinha de refrigerante ou uma embalagem de cigarros jogada na rua já se apresenta bastante agressiva aos olhos de quem se preocupa com sua preservação. A destinação adequada do lixo ainda carece de solução definitiva. 

   Segundo o ex-prefeito do Serro, José Monteiro, foi feita uma proposta de construção de uma usina de reciclagem de lixo no Serro e outra menor para Milho Verde. Mas a proposta não teve a aprovação da FEAM. "O lixo da localidade é depositado em valas que são recobertas com terra", assegura.


   Quanto a agua, seu principal atrativo, apesar de recente intervenção da administração municipal, muito ainda deve ser feito para assegurar sua proteção, principalmente em relação a unidade ambiental do Lajeado, que funciona como área de recarga para as nascentes de Milho Verde. "No início de 2001, uma parceria entre a prefeitura e a Copasa colocou em atividade em Milho Verde um poço artesiano que abastece uma caixa d'água de 100 mil litros para distribuição na localidade", informa José Monteiro. Antes, toda água era captada na Serra do Ouro que hoje continua abastecendo parte do vilarejo e tem impacto sobre o regime do Lajeado.


   Além disso, acrescentou o ex-administrador municipal, "todas as nascentes existentes no Serro, incluindo Milho Verde, que vertem para o rio Jequitinhonha, estão legalmente protegidas. Tanto pela lei municipal, que transformou o Lajeado em Área de Proteção Permanente (APA), quanto pela lei estadual que criou e protege o Parque Estadual do Pico do Itambé".

Outro problema que compromete o meio ambiente são as queimadas, um dos principais fatores de degradação em Milho Verde e região. Mas, ao que tudo indica, as coisas estão mudando com o aumento da consciência ecológica dos turistas e das pessoas que vivem da lida com a terra.




MOBILIZAÇÃO

   Há um consenso de que só a união das pessoas que apreciam Milho Verde poderá garantir a preservação deste pequeno paraíso. Há alguns anos, em uma ação inédita, duas mil mudas de árvores forma plantadas nas nascentes do lajeado. O fotógrafo Renato Nunes que vive no local há cerca de quatro anos participou do plantio e acredita que "ações como esta fortalecem a consciência ecológica e a capacidade de mobilização dos moradores que, dessa forma, estão aprendendo a trabalhar em conjunto na defesa do meio ambiente".




DA MINERAÇÃO AO TURISMO


   Localizado próximo a cidade de Diamantina, no Alto Jequitinhonha, o distrito de Milho Verde pertence ao município do Serro e é uma das preciosidades da Estrada Real, caminho de tropeiros da época do Império, que vem sendo resgatado pelas autoridades governamentais e a iniciativa privada visando torná-lo um importante roteiro turístico de nosso estado.


   O arraial de Milho Verde surgiu em decorrência das atividades de mineração do ouro desenvolvidas na região do Serro Frio no princípio do século XVIII. Com a descoberta dos diamantes, as prospecções alcançaram também a zona de Milho Verde, o que levou a Coroa Portuguesa a fazer incidir sobre aquela comunidade as mesmas drásticas normas de fiscalização Diamantina.  Nas proximidades de Milho Verde forma instalados um quartel e um posto fiscal para coibir o extravio de diamantes. As restrições impostas pelos governantes portugueses certamente contribuíram para a sua estagnação econômica, relatada por viajantes que passaram pelo povoado naquele período.



   Como testemunhos dessa época ficaram parte do casario no entorno da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres e a capela de Nossa Senhora do  Rosário, supostamente construída por negros livres ou escravos. A capela nada possui que a distinga sob o aspecto ornamental, mas seu valor se dá pela inserção em magnífica paisagem, no topo de uma colina, com vista muito ampla para o vale e serras que integram o maciço do pico do Itambé. Singela e dona de uma beleza singular, a capela parece ser observada a distância pelo imponente pico do Itambé.




CULTURA RESGATA VALORES

   Uma das grandes conquistas referentes a cultura na localidade é o Encontro Cultural, que acontece sempre em julho. Neste encontro, que é apoiado pela Associação Cultural e Comunitária de pela Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, são realizadas oficinas, debates instrutivos, atividades artísticas e culturais com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade.

   Segundo Luiz Fernando Leite, um dos coordenadores do evento, "o encontro visa fortalecer e expandir a cultura da comunidade, integrando-a ao ambiente tão rico, além de desenvolver novas possibilidades para os moradores, dando ênfase ao desenvolvimento de suas crianças e adolescentes. Vale ressaltar ainda a importância da valorização do potencial artístico local, tais como folclore, música e artesanato". O encontro busca, ainda, ampliar as discussões na área de preservação do meio ambiente, enfatizando a necessidade de melhor organizar o turismo que tem crescido de forma desordenada.


TEXTOS E FOTOS RETIRADOS DA REVISTA VERDE MOVIMENTO, EDIÇÃO DE LANÇAMENTO, JUNHO DE 2003.







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